quarta-feira, 27 de junho de 2007

E os mais vendidos são...

Que os brasileiros não são muito chegados em livros não é novidade, segundo pesquisas, os brasileiros lê em média 1,8 livros não acadêmicos por ano, o Brasil aparece em 27° dos 30 paises pesquisados, gastando 5,2 horas por semanas em leitura.

Porém, entre os poucos livros que mais vendem e mais procurados no Brasil são os livros de auto-ajuda. Com suas formulas práticas e simples da busca de felicidade e bem estar, os livros vira e mexe se encontram na ponta superior da lista dos mais vendidos e ficam lá por meses e meses, geralmente substituídos por novos lançamentos de......auto-ajuda. Os autores procuram juntar em algumas dezenas de páginas aspectos mais comuns do ser humano, permitindo abranger o maior número possível de pessoas. Vários motivos são apontados para o sucesso de venda, desde seu baixo preço, principalmente comparado com o valor de consultas com profissionais, até a procura das pessoas para preencherem uma lacuna existente em suas vidas e a busca de desenvolvimento humano.

Analisando essa situação, o que mais me chama atenção é que o pouco tempo disponibilizado pelos brasileiros à leitura se limita a livros de auto-ajuda, não que livros de auto-ajuda sejam negativos ou destrutivos porém sua maneira padronizada, tentando reduzir as particularidades e aflições dos seres humanos em um sentimento único, explicável e resolvido através de formulas simples, não chegam a ser eficientes em sua totalidade. Pois apesar de tratar tudo de forma padronizada e as pessoas funcionarem com uma “base” comum, cada um tem a sua particularidade, suas capacidades e dificuldades distintas sendo assim, o que pode servir para “Paulo” pode não servir para “Pedro”. Enquanto isso grandes literaturas, sejam elas nacionais ou internacionais de ficção ou não ficção, podem causar ganhos inúmeros a todos os seu leitores.

A leitura traz grandes benefícios aos seus adeptos como desenvolver a criatividade, desenvolvimento da escrita, melhor conhecimento da língua local, aumenta nosso repertório de palavras, nos auxiliando em debates e em expressões orais. Algo que um livro de auto ajuda não nos permite, pois todos são escritos de maneira muito simples, não que simplicidade seja um defeito, mas simples na forma de formulação de textos e frases que muitas vezes possuem graves erros tanto de ortografia e de concordância, que nos permite uma leitura rápida e muito superficial, não nos prendendo as palavras, aos seus significados não nos permitindo descobrir o nosso português, de brincarmos com nossa capacidade de construção visual de uma narração.

Sendo assim, será que se nos deixássemos levar pelos grandes benefícios de uma boa literatura, nossas cabeças não iam ficar tão livre para nos relacionar incansavelmente nossos defeitos? Será que uma boa literatura não nos permitira descobrir um novo mundo, um novo conhecimento, abrir novas oportunidades de relacionamentos humanos aperfeiçoado por uma melhor desenvoltura oral, que nos faça descobrir que o porque somos insubstituíveis.

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns pelo comentário. Muito oportuno. SObre isso, tenho uma rtigo muito propício. Abraço, Carlos.



Me engana que eu gosto

Tenho medo de ser preconceituoso. Isso mesmo, a palavra é “medo”. O preconceito nos torna injustos, cria resistências contra o novo, segrega e discrimina. Uma pessoa que acredita no desenvolvimento moral e intelectual do ser humano, deve abominar o preconceito. Por isso, eu me forço ao menos a conhecer o que me desagrada.

Não adoro pagodes nem música sertaneja, mas às vezes me pego ouvindo esse tipo de música e até cantarolando uma ou outra canção. Sim, de cada gênero musical, há o que se aproveite; assim como de cada estilo de qualquer coisa. Até a literatura de auto-ajuda eu me obrigo a conhecer. Ora, se milhões lêem determinado livro, certamente alguma coisa de interessante ele deve ter...

Pensando assim, forcei-me a ler The Secret (“O Segredo”), da australiana Rhonda Byrne. Tanto me falaram desse livro, tanto sucesso fez o seu DVD que, antes de criticar, resolvi conhecer.

Reconheci inúmeras razões para o sucesso de “O Segredo”, a maior delas é que diz exatamente o que queremos ouvir. Quem não quer ser imortal, rico, ter o parceiro, ou parceira, de sua vida ao seu lado, e tudo isso sem fazer força? Ora, é mamão com açúcar, como diria um velho amigo.

O livro trata os leitores como se estes nunca tivessem lido qualquer coisa antes, como se suas mentes fossem folhas de papel em branco, e o pior é que os leitores parecem realmente reagir como se não tivessem recebido nenhuma informação antes de conhecer o tal Segredo.

Ora, a força mental existe. Pode chamá-la também de poder de raciocínio, de abstração, de prever fatos. Sem ela, a espécie humana não teria prevalecido sobre as outras. Agora, impingir dons miraculosos a esta qualidade comum a todos os racionais, é forçar a barra, é apelar para o pouco alcance cultural da maioria das populações.

Pior: ligar a capacidade de ganhar dinheiro a uma pretensa superioridade de alguns poucos escolhidos, é brincar com a ética e os delicados problemas sociais que afligem o planeta. O livro de Rhonda Byrne diz que só 1% das pessoas detêm quase toda a fortuna do mundo, porque elas “sabem o segredo”. Será que incluiu traficantes, chefes do crime organizado e políticos corruptos nisso?

Um susto, uma revelação

Só depois de ler o livro e ver o filme é que tratei de tecer meus comentários a respeito. Não peço para que meus amigos deixem de vê-los, mas já vou prevenindo. Outro dia, entretanto, fiquei arrepiado quando vi minha filha com o tal “The Secret” embaixo do braço.

“Está lendo esse livro, filhinha”?, perguntei, tentando parecer calmo.

“Estou, e é bem legal. O cara está detonando”.

“Não é “o” cara, é “a” cara, uma australiana”.

“Não, papai, o dela é outro. Esse é o do Philip Hill, um professor americano, e está detonando o livro da Rhonda Byrne”.

Peguei o livro para ver melhor. A capa era parecida, mas era outro, sim. Pelo jeito o autor resolveu discutir cada detalhe do livro da australiana. Li a quarta capa e a introdução. Minha filha pediu de volta, pois ainda não tinha terminado a leitura.

Esperei dois dias e estou com ele agora nas mãos. Li em três horas, parando para analisar cada detalhe, checando algumas informações com os livros que tenho. Realmente, mesmo sem negar que a força do pensamento existe, o tal de Philip Hill, com muita classe e informações precisas como um bisturi, vai derrubando cada castelo de cartas construído pelo best seller internacional.

O livro se chama “Verdades e mentiras sobre a lei da atração”. É bonito, com capa dura, umas 160 páginas, baratinho. Mas o legal é que não brinca com a nossa inteligência. Pelo texto dá para perceber que o professor Hill deve ter ficado um pouco de saco cheio com o monte de exageros que encontrou nas páginas de The Secret. E deve ter ficado preocupado com o que esses exageros poderiam provocar nas pessoas, se é que já não estão provocando.

Fiquei feliz de saber que há gente como esse professor lutando para que cabeças como a da minha filha sejam poupadas da mediocridade geral. Entrei em contato com a editora que lançou o livro aqui no Brasil, mas fiquei sabendo que o professor Philip não quer papo. Quer se manter quase anônimo lá no seu condomínio perto de Los Angeles, com os filhos, os netos, sem entrar nessa corrida maluca pela fama e pelo dinheiro.

Entendi e respeitei sua privacidade, pois acho que faria a mesma coisa. Imagino que ele nem quisesse escrever livro algum, só escreveu esse, como professor que é, para tentar impedir que mentiras ganhem corpo e se espalhem pelos cinco continentes. Então, redigi esse artigo, que traduzirei para o inglês e colocarei também em sites e blogs dos Estados Unidos, apenas para que o sr. Philip Hill saiba que ao menos um pai no mundo ficou muitíssimo agradecido com o que ele teve coragem de escrever.

Carlos Virgilio Nepomuceno – São Paulo/SP

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